Outro dia, numa conversa com um amigo via whatsapp, surgiu a grande questão: o que sustenta os relacionamentos? Sem titubear, ele disparou que, hoje em dia, é o orgulho. E não mais carinho ou afeto – explicou. Eu, talvez um pouco menos desiludida, chamei de mistério. O relacionamento se sustenta enquanto o mistério em torno do outro perdurar. A imprevisibilidade. A delícia das surpresas grandiosas e também das minúsculas reviravoltas do dia-a-dia: uma nova preferência, um convite inesperado, uma nova reação às ações rotineiras. E depois? O que há, o que resta? Será possível que o mistério continue para sempre? Ele queria saber e eu ainda quero.
Não demorou muito para surgir a nova hipótese: o que sustenta a paixão é o mistério, já o que sustenta o relacionamento (ou o amor, vá lá) são os detalhes. Melhor ainda: a familiaridade contida nos detalhes. Saber como fazer @ girl ou boy magia sorrir. Saber a sua cor favorita, o seu doce irrecusável e o jeito certo de pedir desculpas. Conhecer a expressão que faz quando está falando algo mas queria mesmo dizer outra coisa. Rir do jeito como come guardando a parte favorita para o fim. O que sustenta o amor, veja só, é o pé frio embaixo do edredom e também a habilidade de conversar sem palavras.
O desafio havia sido lançado. Descobrir a fórmula (ou as várias fórmulas) para amar. E, mais ainda, para continuar amando. As respostas foram tantas que não caberiam em texto algum, pois bastaria seguir perguntando por aí. Por isso, parei. Parei por ora para assimilar o que ouvi e li.
A intimidade. Adentrar o mundo da pessoa até quebrar a barreira das estranhezas, a ponto de se acostumar com a proximidade. Quiçá, a ponto de se aconchegar nela. A intimidade, veja só, parece ser o antídoto para o “estar só ainda que junto”. Aquele triste fim ou triste meio em que os dois estão lado a lado, mas são estranhos um para o outro. Lester – o protagonista de American Beauty – sabia do que estou falando. E você, provável e infelizmente, também.
A verdade. Guardar as máscaras do dia a dia, os sorrisos amarelos e as omissões eufêmicas. Guardar tudo o que não é puro, bruto, transparente em uma caixinha e deixar para depois: para o lado de fora. Deixar que o outro seja “o lado aqui dentro” e, por isso, possa enxergar como você: quem é, como pensa, o que sente.
A reciprocidade. Antes da resposta assertiva da “reciprocidade”, havia “a gentileza”. Equívoco. Não há gentileza que baste se for singular. Para a gentileza vigorar, precisa ter retorno. Flores, bilhetes, elogios e beijos na testa são só algumas das mil maneiras de ser gentil. Gentileza é emprestar a jaqueta no frio, é bolar uma surpresa, é ceder vez ou outra e ouvir quando necessário. É ajudar a carregar as sacolas, é segurar a porta para o outro passar, é exaltar a sua beleza de repente. É se indignar junto, comprar suas brigas e os seus amores – ainda que sejam passageiros.
A compreensão. Uma resposta-clichê, quase sem graça, não fosse tão… Coerente. Tolerar, inferir e abraçar os defeitos, as opiniões, os trejeitos, os desejos. Não rir, menosprezar ou lutar contra o que o outro é. Afinal, tudo isso o resto do mundo – já que falo em clichês sinceros – fará muitíssimo bem.
A confiança. Como num exercício das aulas de teatro: jogar-se, sabendo que alguém vai estar lá. Alguém que vá abrir os braços e te segurar, se for preciso. A confiança retrai o medo: de se doar, de se mostrar, de compartilhar a sua vida e se desnudar. É o facilitador para quase todas as hipóteses anteriores e, por isso, parece ainda mais difícil: dela, dependem as outras. Não há intimidade, verdade ou compreensão sem confiança. Também não há amor sem ela.
As hipóteses jorram. E se a base do amor for o ciúme? Aquela angústia de possuir e de ser substantivo precedido por pronome possessivo para alguém? E se for o altruísmo, a habilidade de ceder e de colocar os interesses do outro à frente dos seus se assim parecer melhor?
Para este texto, está claro: não há um fim. Qualquer percepção é apenas um começo.
Re-começo, então: para você, o que sustenta o amor?
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Foto tirada por Giulia Bersani.
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