E então, qual é a graça do amor?
Nasci pra ser do contra. Outsider before it was cool, ou algo assim. Talvez por isso, sempre achei amor um pouco tédio. Não clichê, nem chato, só um pouco tédio mesmo. Isso de todos os casais felizes parecerem-se entre si e de todos acreditarem, em maior ou menor nível, em para sempres e combinações perfeitas, conceitos nos quais nunca acreditei. Nem com 10, nem com 15 e certamente não agora.
É fácil imaginar, pois bem, porque sempre defendi a ideia de um amor turbulento. Aquele amor temperado com brigas e tesão acumulado, idas e voltas, ódio e paixão, perdão e sex appeal.
Isso porque, no fundo, no fundo, eu não entendia qual era a graça no amor e ponto. Não acreditando em para sempres, também não acreditava em calmaria: afinal, se é para terminar, que seja em briga e não porque acabou o sentimento. Parecia meio sem sentido, isso de caminhar junto tranquilamente só para, logo ali na frente, vir a separação inevitável e você seguir sozinho de novo. Depois de ter entrado na vida do outro, conhecido os seus amigos, conquistado os sogros e compartilhado seus segredos. Depois de ter compartilhado um pouco de você e ficado vulnerável. Então, eu pensava: por que gastar tempo sentindo se vai acabar? Por que vou abrir mão de sair com meus amigos para sair com homem, em qualquer circunstância que seja? Já, já virá outro, virão outros vários e meus amigos ficarão. E realmente foram. E realmente ficaram.
A questão é que até não muito tempo atrás eu achava que esse ciclo provava a minha teoria. É claro que as “amizades eternas” logo viraram também um mito e eu percebi que mais do que a amizade em si, era a bagagem, o “crescer junto”, que endossava o título de amizade eterna. Até porque se conseguiu me amar mimada aos 14 anos, certamente deve ser mais fácil me amar agora… Se tudo deu certo, né. Quando, na verdade, tudo isso não provava nada além do óbvio: eu não amava.
É fácil renegar um sentimento que você nunca experienciou. Do alto da minha prepotência, julgava os casais apaixonados comparando-os ao que [não] sentia e pensava “bobos”, “pra que tudo isso?”, “ai que preguiça”. Porque não entendia que aquele “desespero todo” só parecia desespero para quem não sentia nada além do prazer em estar junto. Então, seguia acreditando que amor era arrebatamento, que o que sentia por 2, 3 semanas (meses talvez), aquele encantamento desavisado que passa quando a pessoa deixa de ser um ideal e vira palpável, era – no mínimo – paixão. E não era, veja só, era só capricho.
Mas aqui estou, anos depois, vindo a público com o intuito de fazer uma ode ao sentimento que mais me é estranho. Até porque não acho que alguém possa conhecer a fundo o amor, visto que eu mesma era profunda conhecedora da sua teoria em forma de livros, seriados, filmes e textos que escrevia sem sentir.
Continuo não acreditando em para sempres, mas tudo mudou. Porque o meu antigo “para sempre é mito” se transformou em “para sempre é todos os dias”. Cada dia de para sempre significa um a menos de “nunca mais” e, por mim, tudo bem. Passei a entender o sentido em caminhar junto, não em direção ao fim, mas em meio a um caminho bem bom. Em um caminho que vale a pena, que vale o fim inevitável, que vale a caminhada e vale se sentir indefesa. Começo, inclusive, a contestar a inevitabilidade do fim, porque, se para sempre é todos os dias, nunca mais pode já não ser dia algum. Faz sentido?
De uma forma ou de outra, não me importo em ser mais uma. Não me importo em ser mais uma apaixonada de mãos dadas ou aos beijos e tropeços constrangendo transeuntes. Não me importo em ser mais uma a lançar frases que provavelmente ouvi em filmes, mas que representam o que sinto, sim, representam o que quero dizer, sim. Eu te amo. Você é tudo o que eu queria. Demorei tempo demais para te conhecer. Whatever. Frases que saíram de outro bilhão de bocas ao longo dos séculos e, tendo sido sentidas, foram verdades cada vez.
Sou a pessoa mais feliz do mundo. Preciso de você. Fomos feitos um para o outro. E todas essas mentiras verdadeiras que sentimos e que contamos e que queremos propagar porque estamos apaixonados. Porque, mais do que isso, estamos juntos, amando e querendo tão bem ao outro quanto queremos a nós mesmos.
Não me entenda mal. Continuo amando os meus amigos como amo os meus sonhos. Continuo estimando esses sonhos como estimo os meus planos. Continuo valorizando a minha família como valorizo a mim mesma. A diferença é que agora não acho que precise escolher.
Consigo abraçar tudo isso. Consigo amar tudo isso. Consigo acreditar no amor romântico e também no amor amigo, no amor próprio, no amor fraternal. Em todas as formas de amor válidas e todas elas são.
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Foto por Abril Peiretti.
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