A expressão “cultura do cancelamento” pode até ter surgido na internet, mas e a cultura em si?
Pessoas gostam de participar da ruína alheia. Principalmente, se há uma justificativa mais ou menos clara – e a segurança da impunidade.
Durante a Inquisição, multidões assistiam aos assassinatos de bruxas e traidores na fogueira. Quando a guilhotina foi utilizada pela 1ª vez, a plateia vaiou. Não para censurar a violência, mas porque foi tudo muito rápido. As torturas anteriores à invenção costumavam durar horas.
Não faltam na História exemplos de punições de “vilões” como entretenimento. O prazer justiceiro e punitivista é antigo.
Tá, se a cultura do cancelamento não surgiu recentemente, por que temos discutido o tema nos últimos anos?
Porque a expressão se estabeleceu em 2017, em meio ao movimento #MeToo, que denunciava assédios em Hollywood.
A perseguição virtual dos assediadores era a forma de a audiência apoiar as mulheres e rejeitar os vilões da indústria.
Mas as multidões – e a internet – não têm limites. Não demorou para outras pessoas serem “canceladas” também.
Nem toda crítica é cancelamento, então o que os cancelamentos geralmente têm em comum?
Explicando: cultura do cancelamento
Justiceirismo: “estou fazendo isso porque ela é má e eu, boa. Tudo bem ser cruel, é por um Bem Maior™. Isso é ser justa.”
Reducionismo & desproporcionalidade: “não importa se a pessoa cometeu um erro e se arrependeu. Mesmo se o consertou, é tudo teatro. Só fez isso porque foi pressionada.”
Ódio como motivação: “não quero que o alvo melhore ou compense o erro, quero que sofra.”
Ostracismo: “outros devem responder pelos erros da pessoa e cancelá-la também. Esposa? Colega? Irmã? Não importa. O vilão precisa ficar só e quem não cumprir isso merece ser cancelado com a mesma intensidade.”
Efeito manada, medo & pertencimento: “A maioria acha justo? Melhor não discordar. Cancelando, faço parte do grupo mais forte. Indo contra, posso virar o próximo alvo.”
Você já vivenciou ou percebeu situações de “cancelamento”? Divida aqui nos comentários para que possamos identificar e analisar casos. Ah! Não deixe de acompanhar o @clarafagundes para mais conteúdos educativos e feministas como esse.