Sempre fui escritora

Desde criança, sou escritora

Desde criança, sou escritora. Não do tipo que publica livros e se sustenta com o que escreve – infelizmente, diria – mas do tipo que só se entende em letras. Meu alfabeto fonético sempre foi subjugado pelo gráfico: letras, parágrafos e contos escondidos em todas as gavetas de todas as casas em que morei. Tive diários, escrevi crônicas e criei personagens até a minha adolescência. Hoje, a minha convivência com as letras vem sendo diferente: escrevo para sentir e, se não escrever, não sinto. Não foram poucas as vezes em que, confusa sobre o meu posicionamento quanto a determinado assunto ou em meio a sentimentos nebulosos após uma briga, sentei em frente ao computador para escrever. Escrever para entender. E as palavras que surgiam com cliques revelavam, aos poucos, a mágoa ou o perdão, o ódio ou a paixão ligeiramente doentia. E assim vivi, e assim vivo.

Quando menina, se questionada sobre a minha futura profissão, dizia: dona de shopping, astronauta, jornalista. Mas se a pergunta era “o que eu seria”, uma resposta só: escritora. Porque, mesmo naquela época, entendia que escrever não era profissão, complemento, alheio. Escrever era eu.  Seria. Sou. Em todas as conjugações, enfim.

A minha relação com o texto sempre foi, portanto, egoísta. Escrevia para me apoderar de mim e para me apoderar do outro. Acima de qualquer outra coisa, escrevia para ter poder. Poder sobre personagens que ganhavam vida e eram meus melhores amigos, amantes, antagonistas – minhas pessoas favoritas. Poder sobre finais felizes e mortes abruptas. Poderes sobrenaturais: voar, desaparecer, enfeitiçar e cantar como as sereias das lendas que afundavam embarcações inteiras. Porque queriam e porque podiam. Escrever servia para expandir quem eu era, o que conhecia, a quem eu amava.

Hoje, porém, o egoísmo das palavras escondidas aos poucos dá lugar à ansiedade insegura de quem escreve para o mundo, de quem escreve também pelo outro. Enquanto lentamente escrevo um livro que guarda tudo o que valorizo na vida – e também todos os meus maiores sonhos – publico textos sem-fim para treinar a sensação de me mostrar do avesso aos leitores. Críticos. Juízes. E reviro as gavetas em busca de contos perdidos, desarrumo a casa para arrumar o blog.

Com o tempo, aprendi que escrever para o mundo traz responsabilidades: a rotina, o cuidado, a expressão. Mas, acima de tudo, expõe quem você é, te põe na berlinda e o obriga a dançar sozinho no meio da roda sob os olhares alheios.

Que escrever para si é entendimento. Escrever para o outro, fragilidade.

Que escrever para si é necessidade. Escrever para o outro, coragem.

Respiro fundo e, rodopiando, publico mais um texto.

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Foto: Esben Bøg (@swiiffer)


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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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