Fotografia: Ren Hang
“Nati per l’espresso”, estava escrito na cafeteira. Atrás do balcão, a proprietária me agradece com os olhos apertados: “glazie!”. Esse é mais um negócio de Roma conduzido por estrangeiros. Nesse caso, uma chinesa no bairro de Quadraro, sudeste da cidade, que talvez não tenha nascido para o espresso, ma lo fa benissimo!
Em uma cidade historicamente borbulhante como Roma, falar de “imigrante” requer ao menos uma pulga atrás da orelha: quem é estrangeiro na cidade que é eterna e que já assistiu a tantas misturanças e confluências? Não me sinto na competência nem na pretensão de matar essa pulga; o que se pode apontar, porém, é que culturas muito diferentes se realçam no contraste com o tecido romano e italiano. “[O estrangeiro] quebra a repetitividade habitual, distrai da norma, do usual. É um elemento de distúrbio e como tal, extraordinário, incontrolável. O estrangeiro é diferente de nós, aquele que inquieta porque não é reconhecível imediatamente” (Valeria Giordano: Immagini e Figure della Metropoli. Mimesis. Milão, 2013).
Dois lugares me impressionam particularmente no exercício de compreensão da Roma de 2014. A Piazza Vittorio Emanuele, que leva o nome de um dos principais nomes da unificação italiana e primeiro rei da Itália. Ali os perfumes dos restaurantes indianos dividem espaço com lojas de acessórios de todo o oriente e negócios familiares chineses, que dão destino à duvidosamente aceleradíssima produção do sudeste asiático. Ah, e tem o Mercato Esquilino (uma frase à parte para ele, é lá que tem guaraná, manga e farinha de mandioca).
Cada calçada é composta por rostos e roupas tão diversos quanto suponho que sejam suas histórias e motivos de estarem ali. Através de uma amiga romana, fui aconselhado a visitar um dos restaurantes indianos da região, o número 11 da Via Mamiani. O nome: Janta. Provavelmente tem a ver com “janata”(जनता), que significa algo como “pessoas, gente, nóis aê”, e não tem nada a ver com o nosso jantar. Almocei curry, pimenta, verduras fritas e pimenta pra depois terminar com meu amado clássico: um bello gulab jamun, bolinhas de massa doce fritas e ensopadas em calda de rosas. Tem 3 tipos pra alegrar o freguês: o normal, o mais frito e o menos frito.
Saindo dali e muito pertinho, meu segundo lugar é o maravilhoso caos da estação Termini, cujo nome vem das Termas de Diocleciano, que lhe fazem vizinhança. A segunda maior estação da Europa e maior da Itália concentra alguns pontos da cultura africana na cidade. Restaurantes e lojas de produtos tradicionais estão espalhados pela região. Nessa misturança conheci a “Carta profumata d’Eritrea”, um bloquinho de papéis de perfumar criado há quase 100 anos por um farmacêutico italiano. São mais de 30 óleos naturais de origem africana e asiática espirrados nos papeizinhos, que se pode tanto queimar quanto deixar no saquinho. O cheiro se encarrega de fugir da embalagem plástica de qualquer maneira. No 8 da Via Volturno tem pacotinhos com uma boa quantidade por 3 ou 4 euros e de quebra se ganha uma conversinha com as donas da loja, que vende majoritariamente produtos da Etiópia e região.
Na volta pra casa, ainda vejo outros estrangeiros e suas banquinhas, negócios ou cartazes escritos com seus estrangeiros belos alfabetos. Passando em frente à cafeteria mais uma vez, de longe me saúda minha amiga, cujo nome não consegui guardar e se conseguisse, não saberia pronunciar bem:
— Ciao bello, come stai?
— Bene, bene, tu?
No espelho da minha casa, encontro outro estrangeiro.