5 livros para ler antes de morrer!

Da série de posts com os 5 filmes, os 5 programas de TV, os 5 álbuns e 5 músicas para ver, ouvir e conhecer antes de morrer, os 5 livros para ler antes de morrer. Para ler os outros posts da série, clique nos links acima.

Para ler mais opiniões sobre cada um dos livros, clique nos links.

Cem anos de Solidão, de García Márquez.

“As coisas têm vida própria” – diz Melquíades, o curioso cigano que apresenta o gelo aos moradores de Macondo. “Tudo é questão de despertar sua alma”, completa. Nenhuma outra frase descreverá melhor o que Cem anos de Solidão realiza em seu leitor além de que, claro, desperta a sua alma. Porque está vivo, assim como estão os seus personagens.

A história acompanha 100 anos das diferentes gerações dos Buendía, a família fundadora do povoado fictício Macondo. A construção da sua saga é escrita de tal forma por García Marquez, Nobel de Literatura e mestre na arte do realismo fantástico, que é impossível não senti-la como se fosse real. É impossível não ser também um Buendía e sentir com eles o peso do afastamento em relação ao mundo e da solidão que mora na singularidade, nas próprias escolhas e nos segredos trancafiados.

1 teaser: “Pensava na sua gente, sem sentimentalismos, num severo ajuste de contas com a vida, começando a compreender quanto amava na realidade as pessoas que mais odiara.”

Ensaio sobre a cegueira, de Saramago.

A primeira coisa a se explanar sobre a escrita de Saramago, para que não se assuste, para que não fuja antes de mergulhar é: não há pausas. Não há portos seguros onde se possa apoiar e esperar pelo próximo gancho narrativo ou genialidade premeditada. Tudo é natural, rápido, estupendo… E acorrenta. Sim, pois é uma leitura ágil, embora densa. Não consigo imaginar degustar este livro em fragmentos. Não. É um livro para ser devorado, com as mãos, os olhos, as entranhas.

A epidemia de uma inédita cegueira branca confina infectados e alvos de risco em quarentena. Sem interferências do mundo exterior e abandonados à própria essência, os confinados são obrigados a se organizar em grupos, a cuidar da distribuição de comida e de poder. À medida em que perdem a visão, os cegos se reduzem à condição humana. A quarentena, então, transforma-se numa analogia (ou, bem, num ensaio) à formação da sociedade, ao surgimento da crueldade e, acima de tudo, à responsabilidade de ser o único a enxergar em um mundo imerso em trevas. É escrevendo sobre a cegueira que Saramago nos ensina a ver.

1 teaser: “A culpa foi minha, chorava ela, e era verdade, não se podia negar, mas também é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada ato nosso nós puséssemos a prever todas as consequências dele a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala.”

O silêncio das montanhas, de Khaled Hosseini.

“O silêncio das montanhas” é um livro sobre o amor. O amor sem limites, sem “poréns”, sem relógios: o amor entre o órfão de mãe Abdullah e a sua irmã Pari. Como na maioria das grandes histórias, nem tudo são flores. No caso dos dois irmãos, o “nem tudo” mingua até o “quase nada” e, por isso, os laços entre eles são como um oásis. A sua redenção. Até que, por força das circunstâncias e do egoísmo alheio, são obrigados a trilhar caminhos opostos.

Ouvi dizer que não ler esse livro chega a ser considerado uma ofensa em alguns lugares. Na minha casa, por exemplo.

1 teaser: “O tempo é como um encantamento. A gente nunca tem o quanto imagina.”

A saga Harry Potter, de J.K. Rowling.

Ainda bem que, entre tantos séculos e décadas e culturas, eu fui nascer logo em 1994, exatos 6 anos antes do lançamento da edição brasileira de Harry Potter e a Pedra Filosofal. Na hora certa e no lugar certo para crescer junto com Harry, Hermione e Rony. Para aprender com Dumbledore, ser mimada por Molly e me apaixonar por Sirious. Para ler e reler O Prisioneiro de Askaban 13 vezes (… e contando) e, claro, me decepcionar com o fim da saga em 2007. Mas entrar em luto, ainda assim. Esperar pelos últimos filmes e sentir que, finalmente, tomavam cuidado com essa história que fez a minha infância e, em vários níveis, fez também um pouco de mim. Talvez não possuísse uma relação tão estritamente pessoal com o que leio se não houvesse Harry Potter. J.K. Rowling… Obrigada.

1 teaser desnecessário: “Erro como qualquer outro homem. De fato, sendo, perdoe-me, bem mais inteligente do que a maioria, os meus erros tendem a ser proporcionalmente maiores.”

e 1 resposta para não esquecer:

“Depois de todo esse tempo?

Sempre.

Anna Karienina, de Tolstoi.

Anna não é a única protagonista dessa que é uma das maiores obras-primas da literatura mundial. Faz dupla com Liêvin. Esse é fator primário a falar pois desencadeia algo que se dará por todo o livro: a sua dualidade. A intensidade e o discernimento, o sofrimento e a felicidade, a mulher e o homem, Anna e Liêvin. Anna, por muitos descrita como a primeira personagem bipolar da história, é sentimento. Ela pensa e ama com tal fervor e decisão que chega a assustar por diversas vezes. Assim como as personagens descritas, quem lê sobre Anna é acorrentado por seus encantos. E é assim, sem saída, que o leitor assiste ao sofrido processo de despedaçamento da personagem.

Paralelamente, está Liêvin. Alerta: CUIDADO. Depois de Konstantin, torna-se quase inverossímil adorar personagens de quaisquer outros livros. Liêvin é a personificação do caráter, da bondade e da ingenuidade. Fica ainda mais difícil não se entregar a esse amor quando se descobre que, assim como todos os seus personagens, era baseado em alguém conhecido por Tolstoi. Neste caso específico, ele mesmo. Saber que os conflitos e as ações de Liêvin pertenceram também ao seu autor faz crescer a sensação já berrante de intimidade e confidência. Tolstoi parece mastigar pensamentos e palavras com cuidado para logo em seguida libertá-las sem filtro algum (exceto o da genialidade): as sentenças parecem acompanhar o fluxo do pensamento.

Entre os dois, dá-se apenas um encontro. Ainda assim, durante toda a narrativa, suas vidas estão intrinsecamente ligadas.

Sem floreios, Tolstoi dá vida a uma reflexão magnífica sobre o amor, a responsabilidade, a ordem estabelecida e a família. Portanto, nada melhor para descrever Anna Karienina do que a sua primeira linha: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.

1 teaser: “Mas Liévin não atirou contra si mesmo, não se enforcou e continuou a viver”.


Alertinha! Essa publicação é pessoal! Não adianta espernear, mas adianta – e muito – fazer a própria lista nos comentários abaixo ou enviar a sua versão via inbox na fanpage do Blog Declara. Aguardamos novas dicas do que ler, ver e ouvir antes de morrer.

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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