Não tenho medo de morar sozinha

O problema de morar sozinha

Vou contar pra vocês umas coisas sobre morar sozinha em outra cidade.

Não, não vejo problema em passar o fim de semana em casa sem ninguém.
Não ligo de cozinhar, se preciso, nem de pedir delivery, ou de não ter com quem conversar se chegar em casa e ela estiver vazia.
Cheguei num nível em que não vejo problema nem em ficar doente sozinha, pra cês verem.

Meu medo e meu problema são essas coisas que acontecem comigo e com as mulheres ao redor, numa frequência assustadora.
Meu medo é do cara que senta na minha frente ou ao meu lado no metrô se insinuando com gestos e me engolindo com os olhos.
Meu medo é do homem que se enrosca em mim no ônibus, não importa o espaço, não importa pra onde eu me mova.
Meu medo é do senhor que me segue no meio da rua e do homem que me chama de vadia porque eu não respondi ao insulto que ele jura que é elogio.
Meu problema é com o cara que me segura pelo braço e grita pra eu responder o bom dia dele, PORRA, que ele tá falando comigo.


Meu problema é com o motoqueiro andando devagarinho ao meu lado me chamando de moreninha, dizendo que precisa falar comigo, que ele quer me mostrar uma coisa bem legal.
Meu problema é com o doente que começa a se masturbar na minha frente no cinema porque “não conseguiu resistir”.
Meu problema é com o cara que me vê sozinha na fila do cinema e acha que a função dele é me fazer companhia (como seu namorado te deixa sair assim?) e tenta me beijar no meio do filme do nada.
Meu problema é com o idoso safado que parece perdido, eu vou “ajudar” e ele também me assedia, até porque babaca também envelhece, não é mesmo?
Meu problema é que essa listagem que era pra ser hipotética, de hipotética não tem nadinha.

Então, que fique bem claro, não sinto medo e nem vejo problema algum em morar sozinha pelo “ficar sozinha”. Meu problema é que mulher sozinha é um alvo danado. Nos ônibus, no metrô, na rua, no cinema, no shopping, no caminho para o trabalho e até na internet.

Meu problema é ser mulher e sentir medo o tempo inteiro.

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Foto: Andressa Cutini.


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clara-fagundes-pesquisadora-do-futuro

27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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