A síndrome da impostora, ou “fenômeno impostor” é a sensação de não merecimento que acomete muitas mulheres. O fenômeno começou a ser estudado na década de 1970 e inicialmente estava relacionado ao mercado de trabalho.
O que causa a síndrome da impostora?
Há muitas causas, mas as mais citadas são:
– Falta de representatividade: poucas mulheres na liderança das empresas, na política, na mídia. Por isso, todas as mulheres podem sofrer com ela… Mas, principalmente, as que passam mais longe do padrão de beleza.
– As opressões do patriarcado, que fazem mulheres se sentir eternamente insuficientes, em diversas áreas: profissional, acadêmica, pessoal, social. A exigência de um Grande Amor™ também ajuda. Afinal, mesmo uma mulher incrivelmente bem-sucedida não deve se sentir completa sem formar Uma Família™.
Quais são os sinais?
– Sorte ou favor
Uma pessoa que sofre com o fenômeno impostor frequentemente justifica as próprias vitórias, seja quais forem, como “sorte” ou “favor” de alguém.
“Eu estava no lugar certo, na hora certa. Ele me achou legal, por isso me escolheu para essa vaga. Ela ficou com pena e acabou me aceitando por isso.
– Procrastinação nervosa
Você já recebeu alguma tarefa complicada ou nova e, por isso, deixou até o último momento possível para resolver?
Durante todo o período de procrastinação, ficou se sentindo burra, incapaz ou ansiosa por não saber fazer aquilo e/ou por estar procrastinando… E aí, quando foi fazer, descobriu que conseguia. Mas, claro, soube que teria ficado melhor se você não tivesse procrastinado? Pois é.
– Perfeccionismo
Uma coisa é querer fazer algo bem. Isso tem a ver com cuidado e responsabilidade. Começa a ficar preocupante quando essa necessidade te paralisa, atrasa, impossibilita de fazer coisas que você quer ou precisa fazer.
Não ter um microfone caro não é razão para não começar um podcast. Não ter 30 anos, um diploma e um MBA não é razão para nem se candidatar para a vaga dos seus sonhos.
– Esforço desproporcional
Umas procrastinam, outras se esforçam demais.
Os motivos que você conta a si mesma para isso podem ser vários: talvez, se esforçando muito e visivelmente, ninguém vá realmente te criticar se o resultado for ruim.
Talvez, você esteja compensando o que pensa ser a ausência de capacidade com mais horas de trabalho/estudo. Ou pode ser uma forma de se prevenir da humilhação do fracasso
– Autossabotagem pura
E existe o lado da autossabotagem pura. Se importar com algo e, ainda assim, decidir não fazer, fazer com pouco esforço, ou deixar para a última hora. Assim, se você falhar, ninguém – nem você mesma – vai poder dizer que foi por incapacidade e, sim, por preguiça ou desinteresse.
“Se tivesse se esforçado mais, provavelmente conseguiria!”
– Insegurança crônica
A insegurança crônica é aquela que não passa e soaria irracional em voz alta. Por exemplo, uma pessoa que canta desde criança achar que, um belo dia, vai desaprender a cantar. Ou alguém que é fluente em uma língua ter muito medo de esquecer como falar no meio de uma conversa.
É essa sensação incansável de que você conseguiu fingir que sabia fazer algo, mas, na verdade, não sabia. Ou até poderia saber, mas pode desaprender ou perder aquela habilidade a qualquer momento.
– Tudo novo de novo
Nunca terminar nada. Sempre com novos projetos, ideias, iniciativas, trabalhos, possibilidades. A pessoa diz que ama mudanças – e pode amar mesmo. Mas também pode existir outro motivo: o que está inacabado nunca pode ser julgado. É um eterno rascunho.
“É só um hobby, sabe? Não é como se eu quisesse realmente que ficasse bom, haha.”
– Alvo móvel
A pessoa que se sente impostora sente que pode ser “descoberta” a qualquer momento. Por isso, vive em movimento. Troca de curso, de trabalho, de projeto, de área.
Ela também foge de feedback porque acha que a próxima vez pode ser exatamente quando vão desmascarar a sua fraude: ela não sabe o suficiente para estar ali. Ela não é legal para andar com aquelas pessoas. Ela não é segura o bastante para estar naquele cargo.
Me identifiquei com alguns sinais. E agora?
Sinto dizer: a síndrome da impostora não é uma doença clínica. Terapia, é claro, ajuda. Mas não existe um remédio ou tratamento que possa tratar sintomas e fazer o problema desaparecer.
Afinal, o fenômeno não é só individual. Mulheres são comprovadamente menos confiantes do que homens – e isso não tem nada a ver com sexo. São os papeis de gênero que posicionam os dois de formas muito diferentes na sociedade.
O sucesso do homem é medido principalmente pelo que ele diz e faz, pelo que conquista. Já o sucesso da mulher é medido, antes, por sua aparência, juventude e habilidade de conquistar e segurar um homem.
Saber disso nos ajuda a entender umas às outras. Inclusive, entender que não estamos sozinhas. É uma das potências da sororidade.
Seja uma mulher que levanta mulheres
Estamos nessa juntas. Por isso, todas nós temos um papel a cumprir. Mas o que você pode fazer para ser parte da solução?
1- Contrate mulheres.
2- Elogie mulheres.
3- Incentive projetos e negócios de mulheres.
4- Não critique mulheres desnecessariamente ou diminua umas para exaltar outras.
5- Não caia na armadilha da rivalidade feminina e odeie mulheres gratuitamente.
6- Não coloque em dúvida o merecimento de uma mulher por seu sucesso. Não assuma que foi sorte, alpinismo social ou favor.
7- Indique mulheres, principalmente profissional e academicamente.
8- Fique feliz pelas conquistas de mulheres, sem necessariamente fazer comparações.
9- Não associe o sucesso de uma mulher a um homem. Por exemplo, “ela é uma ótima jogadora, é o Pelé do futebol feminino”.
10- Na dúvida, pense na máxima: faça com/por outras o que queria que fizessem com/por você.
Identificou você mesma ou pessoas ao seu redor com a síndrome da impostora? Acha injusto que tantas mulheres se sintam assim? Envie esse texto para que mais mulheres possam refletir sobre e siga @clarafagundes para mais conteúdos educativos e feministas.