O verão chegou, e agora?
“Corre, você só tem mais dois meses se quiser estar gostosa para o verão!”
“Você só tem mais duas semanas para perder seus milhares de centímetros de barriga, coxa ou cintura”.
“E essas dobrinhas? Assim não vai poder usar biquíni… Pra sua sorte conheço uma dieta maravilhosa que vai acabar com o seu problema”.
As frases acima podem parecer irônicas ou debochadas, mas fazem parte do que costumamos ouvir com certa freqüência. Especialmente, com a chegada do verão. Eu me pergunto quando foi que nosso corpo virou um “problema a ser resolvido” para o outro.
Quase todos os dias converso com amigas sobre nossas inseguranças e como lidamos com o nosso corpo. Emagrecer ou ficar malhada porque evita que encham nossa cabeça de más ideias sempre parece a solução mais fácil, mesmo que em alguns meses cheguemos a confessar: ainda não estou feliz.
Sempre amei nadar. Comecei as aulas de natação aos oito anos e, de lá pra cá, foi uma das coisas que mais amei fazer na vida e que só não faço novamente por questões de tempo. Apesar disso, sei o que sentia quando conseguia nadar alguns metros a mais em uma hora, quando minha respiração melhorava e o quanto eu me sentia mais disposta.
Eu sou apaixonada pela água, mas simplesmente não consigo ir a uma praia por medo do olhar alheio. Hoje esse tal de “todo mundo” é um fantasma que eu busco expulsar da minha cabeça, apesar de saber o quão difícil é.
Sempre acreditei que nós, e apenas cada uma de nós, podemos decidir o que fazer com a nossa vida e o nosso corpo, mas como diferenciamos o que realmente queremos fazer da pressão social? Aliás, como nos livramos da premissa de que nós precisamos nos encaixar nos “padrões para curtir o verão” se isso é remar contra a maré? E como curtimos o verão quando deixamos nossas inseguranças nos dominarem?
Tenho visto circulando pelo facebook uma frase que diz “eu não tenho que ser gostosa para o verão, é ele que deve ser gostoso para mim”. Tenho vontade de escrevê-la em post-its e espalhar por todos os cantos da minha casa e da cidade, porque precisamos nos lembrar disso e precisamos falar isso umas às outras.
Afinal de contas, se o assunto é um verão gostoso, não importa o formato do corpo e menos ainda receber opiniões camufladas de preocupação. Somos capazes o suficiente de cuidar sozinhas da nossa saúde e da nossa mente. E nascemos prontas para a diversão.
Nunca vi alguém que invadiu o meu espaço dizendo opinar sobre “minha saúde” perguntando, de fato, sobre a minha saúde. Ninguém se interessa sobre minha alergia respiratória, por exemplo. Em suas cabeças o único e mais cruel indicador de “gente doente” é um corpo gordo.
Da mesma forma, aparentemente, “um corpo gordo” não possui sentimentos ou carrega suas próprias histórias, de forma que é OK falar sobre ele. É OK apontá-lo, criticá-lo e menosprezá-lo. É OK desejar que o corpo que não os agrada esteticamente precise se encaixar em padrões que, na maioria das vezes, sequer caberiam em suas próprias estruturas.
E nem sempre precisa ser um corpo exageradamente gordo. Um pouco gordo é o suficiente. Basta um qualquer-coisa-fora-do-lugar. E, às vezes, ninguém está magra ou malhada o suficiente.
Estar gostosa para o verão poderia ter muito mais a ver com nosso estado de espírito. Poderia ter muito mais a ver com o que nós desejamos, com o quanto nós nos aceitamos e amamos, querendo ou não mudar algo. Estar gostosa para o verão poderia significar que temos o direito de curti-lo tanto quanto qualquer outra pessoa (e o dever de não apontar ninguém).
Por sua vez, um verão gostoso para nós precisa significar um verão sem imposições, um verão sem regras, um verão que nos traga liberdade o suficiente para escaparmos das nossas amarras. Precisa significar um verão acolhedor, um verão que nos dê leveza e que nos renove.
Aliás, não deveriam ser assim todas as estações?
Foto: Tamara Lichtenstein.